A ascensão das tias na política paquistanesa

Naz (um pseudônimo) agarra minha mão com força enquanto navegamos em meio à multidão de pessoas. Viajamos de carro por três horas e meia de Lahore a Islamabad, mas quando chegamos à capital paquistanesa, as principais estradas foram isoladas. Não temos escolha a não ser caminhar o resto do caminho até o local do protesto das mulheres. Determinada, Naz, a quem chamo de Tia, usa a ponta longa de seu lenço verde-claro para cobrir o nariz e a boca. O restante do grupo segue o exemplo, usando nossas estolas e dupattas para evitar a inalação de fumaça e poeira ao longo do caminho.
Lembro-me de quando conheci Tia Naz e suas amigas. Nós nos conhecemos durante as caminhadas diárias em um parque do bairro em Lahore, onde nossos cumprimentos e acenos amigáveis evoluíram gradualmente para conversas mais profundas sobre a vida doméstica, filhos e a pandemia. Naquela época, nunca imaginei que nos encontraríamos viajando por várias cidades e participando de um comício político juntos alguns meses depois. No entanto, aqui estamos nós.
Tia Naz, dona de casa desde que se casou há mais de três décadas, está na casa dos 50 anos e tem três filhos adultos. Como muitas mulheres de classe média de sua geração que não trabalham, ela me disse desde cedo que desaprovava a geração mais jovem politicamente ativa. Ela estava desanimada com o fato de suas próprias filhas apoiarem movimentos internacionais de mulheres, como o #MeToo e Marcha Aurat anual, uma marcha de mulheres realizada no Paquistão pela liberdade de movimento das mulheres, proteção contra assédio sexual e outros direitos políticos e jurídicos.
“Eu sou contra essas coisas!” Tia Naz me disse na época. “Isso dificulta a vida de nossas filhas depois do casamento. Minhas filhas zombam de mim e dizem que sou muito antiquada.”
Depois de caminhar por cerca de meia hora, passamos pelos scanners de segurança no Parade Ground, um ponto de encontro central em Islamabad. A área de congregação está repleta de mulheres vestidas de vermelho e verde, agitando bandeiras de partidos e cantando músicas festivas.
Essas mulheres, como Tia Naz, são todas apoiadoras do primeiro-ministro Imran Khan. Khan oferece a elas uma visão diferente da política, na qual as mulheres com valores familiares islâmicos mais tradicionais se sentem bem-vindas. Elas se reuniram aqui para protestar contra um esperado voto de desconfiança—um evento que aconteceria algumas semanas depois, em abril de 2022, destituindo Khan do cargo. Mas em março, a atmosfera fervilha de entusiasmo e expectativa quando Khan desce de um helicóptero. Ele se dirige ao palco—localizado ao lado do espaço reservado às mulheres—para seu discurso.
Ajeitando o lenço verde-claro sobre seu cabelo loiro listrado, Tia Naz se vira para mim e diz extasiada: “Dekho aurton ki jagah sab se agay hai!” (Veja, as mulheres estão bem na frente!)
MULHERES PAQUISTANESAS NA POLÍTICA
Ao fazer um trabalho de campo como antropóloga, eu havia planejado acompanhar o movimento de mulheres laicas no Paquistão urbano e explorar como as mulheres fazem lobby para ter acesso a espaços públicos. Mas comecei a perceber que mulheres conservadoras de classe média, como Tia Naz, estavam participando cada vez mais de protestos e comícios como apoiadoras do partido Pakistan Tehreek-e-Insaf (PTI) de Khan. Desde 2013, o movimento populista de Khan tem se apoiado muito em protestos de rua, comícios políticos e marchas interurbanas—com as mulheres formando uma parte integral de sua base de apoio.
Isso me intrigou: como o populismo de Khan inspirou Tia Naz, e mulheres como ela, a se engajarem politicamente pela primeira vez em suas vidas?
Apesar das oportunidades políticas limitadas para as mulheres paquistanesas, sua participação na política não é inédita. Pelo contrário, antes e até a divisão do subcontinente em Índia e Paquistão em 1947, as mulheres da Índia Britânica participavam ativamente de movimentos anticoloniais e de independência. Nas décadas que se seguiram à independência, as ativistas dos direitos das mulheres permaneceram na vanguarda da ação política no Paquistão, fazendo lobby para derrubar leis draconianas que discriminavam as mulheres. Em 1988, o Paquistão se tornou o primeiro país de maioria muçulmana a eleger uma mulher como chefe de estado, quando Benazir Bhutto se tornou primeira-ministra.
Atualmente, o movimento pelos direitos das mulheres no Paquistão compreende duas gerações de mulheres urbananizadas. A primeira surgiu a partir de organizações tais como o Fórum de Ação das Mulheres (WAF), criado em 1981 durante um período de islamização e leis que discriminavam as mulheres. O trabalho do WAF continua a inspirar uma geração mais jovem de feministas, como as filhas de Tia Naz. Essa geração de ativistas, que atingiu a maioridade na era pós-11 de setembro, após a Guerra Global contra o Terror e durante o boom da mídia social, começou a liderar a Marcha Aurat anual em 2018 para coincidir com o Dia Internacional da Mulher.
Mulheres como Tia Naz, no entanto, não se enquadram em nenhuma dessas categorias. Embora estejam próximas da primeira geração de ativistas em termos de idade e experiência, suas inclinações políticas e sociais não se alinham com as de suas homólogas. Da mesma forma, essas mulheres não participam nem apoiam ativamente as atividades de ativismo feminista de suas filhas. Tia Naz e suas amigas sempre participaram das eleições, citando isso como seu dever cívico (e acompanhadas por seus maridos e filhos), mas não foram politicamente ativas além disso. Em vez disso, elas passaram décadas em espaços privados, como a casa, participando de atividades de cuidado com suas famílias.
Práticas cotidianas comuns, como uma caminhada no parque, podem criar possibilidades para formas mais profundas de engajamento político.
Tia Naz e seu grupo de amigas são simpatizantes do PTI desde que Khan disputou as eleições em 2013. Mas, no início, elas evitavam ir a protestos e comícios. Em uma de nossas caminhadas, Tia Naz lamentou: “Antes de minha sogra falecer, há mais de um ano, eu não tinha permissão para vir a este parque para caminhar, muito menos para tentar fazer amigas na vizinhança.”
Isso mudou durante a pandemia, quando os parques públicos se tornaram refúgios seguros para as pessoas socializarem com responsabilidade e manterem o distanciamento social. Também se tornaram um espaço onde Tia Naz percebeu seu potencial político enquanto caminhava com suas novas amigas.
O APELO DE KHAN—E SUAS CONTRADIÇÕES
Desde sua ascensão à proeminência política após sua campanha eleitoral de 2013, Imran Khan tem sido uma figura divisiva na política paquistanesa. O ex-jogador de críquete e filantropo que se tornou político domina seus seguidores da classe média e da classe trabalhadora com uma retórica anticorrupção aliada a uma ênfase no Islã e na piedade. Seus discursos públicos celebram os valores islâmicos, a centralidade da família e os papéis tradicionais de gênero para as mulheres.
Essa retórica contribui para seu apelo a mulheres como Tia Naz, que se veem representadas—talvez pela primeira vez—nas narrativas de Khan. As seguidoras de Khan apreciam o fato de sua política parecer ocupar um espaço intermediário entre os movimentos femininos contemporâneos, que elas consideram muito “ocidentais”, e os ditames religiosos mais rígidos do clero islâmico, que limitam o papel e a mobilidade das mulheres.
Quando Khan comunica que o Islã promete às mulheres mais direitos do que outras religiões e que as mulheres piedosas são um pilar da sociedade, suas seguidoras veem isso como uma exaltação da posição delas na sociedade e como um crédito devido a elas como mães—um papel no qual elas se esforçaram muito para provar seu valor. Khan tem sua própria mãe em alta estima: o hospital que ele fundou e que atende a milhares de pacientes carentes com câncer em todo o país leva o nome de sua falecida mãe.
Essa sensação de validação se refletiu no comentário de Tia Naz sobre o tratamento preferencial dado às mulheres no comício de Khan: “Vejam, as mulheres estão bem na frente!” Percebi isso como uma provocação atrevida às filhas dela, que frequentemente afirmam que as mulheres não têm acesso seguro aos espaços públicos no Paquistão. No entanto, sua declaração também sinalizou um sentimento de esperança de que havia um espaço público onde Tia Naz se sentia aceita e incluída.
O movimento de mulheres, entretanto, criticou veementemente a agenda populista de Khan. Ativistas dos direitos das mulheres de várias gerações consideram suas mensagens sobre a piedade das mulheres como misóginas. Elas também citam sua falta de apoio a mudanças estruturais reais para as mulheres e as minorias de gênero no Paquistão. Khan não endossou, por exemplo, o projeto de lei de proteção às mulheres em 2006, que alterou um conjunto de leis draconianas conhecidas como Hudood Ordinances, que criminalizavam as mulheres em casos de adultério e estupro. Embora a política populista de Khan possa ter oferecido mais visibilidade às mulheres urbanas aos olhos do público e da grande mídia, as pessoas ativistas dos direitos das mulheres são céticas quanto à forma como isso se traduz na proteção dos direitos, status e segurança das mulheres em termos reais no Paquistão.
AS TIAS EM ESPERA
Tia Naz e suas vizinhas não são bem versadas em teoria feminista ou política. Elas não se consideram feministas nem mesmo ativistas. Entretanto, assim como suas filhas, elas também têm desejos e aspirações políticas—mesmo que seus objetivos não estejam alinhados.
Como antropóloga, observei que a jornada política de Tia Naz revela uma visão mais ampla sobre a mudança social: como as práticas cotidianas comuns, como dar um passeio no parque, podem criar possibilidades para formas mais profundas de engajamento político.
Sua história também mostra como as mulheres paquistanesas comuns, que passaram décadas de suas vidas “em espera”, estão encontrando espaços de potencial político em suas vidas cotidianas. Ao apoiar um movimento populista com um grupo de mulheres que pensam da mesma forma, Tia Naz está conquistando um espaço para si mesma, sem ter que agradar aos mais velhos ou aos filhos.
As tendências e práticas políticas de Tia Naz não são isoladas, mas fazem parte de uma tendência global de participação das mulheres em movimentos populistas. O ex-presidente dos EUA, Donald Trump, a quem Khan é frequentemente comparado, obteve apoio semelhante em 2016 de um número significativo de mulheres (embora esse apoio tenha diminuído recentemente).
Para as mulheres conservadoras do Paquistão e de outros países, esses movimentos populistas criam um senso de esperança e possibilidade política. Apesar das contradições e da falta de mudanças estruturais reais para as mulheres oferecidas por Khan, seu movimento continua popular devido à forma como ele inclui mulheres como Tia Naz na esfera pública—em seus próprios termos.